segunda-feira, 12 de abril de 2021

João Bosco

João Bosco (Giovanni Melchior Bosco 1815-1888) nasceu em 1815 em Castelnuovo/Piemonte num período tumultuoso da história pós-romana de Itália conhecido como "Il Risorgimento" ("O Ressurgimento"), em que esta se encontrava fragmentada em vários reinos e cidades-Estado (posteriormente unificada em 1861). 

Filho de humildes camponeses, ficou órfão de pai quando tinha apenas dois anos de idade. Devido à difícil situação económica, pela qual passava o norte da Itália, a sua infância foi marcada pela pobreza da família. Assim, viveu a juventude e a época dos primeiros estudos com enormes dificuldades. Durante algum tempo foi mesmo obrigado a mendigar. Fez toda a espécie de trabalhos: foi costureiro, sapateiro, ferreiro e carpinteiro.

Com 13 anos de idade começou a estudar e aos vinte, ingressou no Seminário. Foi ordenado sacerdote em 1841, altura em que se transfere para Turim. Cinco anos depois funda o Oratório de São Francisco de Sales (oratório era um tipo de obra assistencial da igreja Católica para jovens que incluía o lazer a educação e a catequese) ao qual se viria a juntar uma escola profissional, um ginásio e posteriormente um internato.

João Bosco pretendia organizar uma associação religiosa, mas o então difícil contexto político e revolucionário, da unificação da Itália, que incluía a luta pela separação entre Estado e Igreja, não era favorável à criação de uma ordem religiosa nos moldes tradicionais. Assim, optou por criar uma sociedade de cidadãos que se dedicasse às atividades educativas realizadas pelos oratórios, todavia em moldes civis.

Em 1859, com a adesão de seus companheiros padres, seminaristas e leigos, funda a Congregação Salesiana (Pia Sociedade São Francisco de Sales), que seria vista pelo Estado como uma associação de cidadãos, e pela Igreja, como uma associação de religiosos. Foi também cofundador da congregação das Filhas de Maria Auxiliadora, conhecidas por irmãs salesianas.

Quatro anos depois, além dos oratórios, os salesianos passam a dedicar-se também a colégios e escolas católicas destinados a meninos e jovens. Com a separação entre Estado e Igreja, houve nessa época uma forte procura por escolas católicas, fazendo com que esse tipo de instituição se propagasse rapidamente.

Faleceu em Turim em 1888, com 73 anos de idade. 

Em virtude de ser o padroeiro dos jovens, e dos aprendizes, foi aclamado por João Paulo II como o "Pai e Mestre da Juventude". 


João Bosco e o espírito salesiano:

O propósito de uma ordem ou congregação religiosa é viver o carisma ou espírito de seu fundador. Assim, o espírito salesiano resume-se na expressão "querer ser como Dom Bosco" (SDB). 

A essência de João Bosco expressa-se através de um modus vivendi que, nas perspetivas temporal e espiritual, educa pelo exemplo. Sendo assim, do modelo de João Bosco os salesianos extraem alguns aspetos que refletem a prática do carácter salesiano, a saber:

- O sentido cristão, tendo como ponto de partida o amor de Cristo pela humanidade, base do amor salesiano pelos jovens;

- O desenvolvimento da ação e vida salesianas na convivência interpessoal em comunidade, na diversidade de pontos de vista, e de culturas, na unidade da fé;

- O espírito alegre enraizado em S. Francisco de Sales que valoriza as novidades do mundo temporal, quando fontes de alegria, de interesse e de agrado para os jovens, desde que não firam a moral e os bons costumes: pela prática da alegria, aprende-se a distinguir entre o entusiasmo passageiro e a felicidade da vida cristã;

- Uma atitude em que não se lamenta, nem se perturba, perante a adversidade, mas que responde aos desafios com uma visão otimista da vida e com trabalho, de forma simples, direta e descomplicada;

- O espírito atento e criativo, com iniciativa, capaz de acompanhar e antecipar a história para estar perto da humanidade e sobretudo dos jovens;

- Diferentemente de outros modelos de espiritualidade cristã e católica, a vocação salesiana não se concretiza, nem pode ser vivida, em clausura absoluta. É próprio desta, reunir as pessoas em família em torno da missão de atender, cuidar, educar e amar a juventude.

Em síntese: historicamente o carácter salesiano concretiza-se de modo pleno na família salesiana, que é a comunidade maior que manifesta o espírito cristão de Dom Bosco para o mundo atual.


Espírito salesiano / Espírito maçónico:

A similaridade entre os espíritos salesiano e maçónico é evidente e frequente nos vários aspetos doutrinários, de atitude e de objetivos, senão vejamos:

- Segundo as Constituições de Anderson os maçons deverão ser “homens bons e leais, de honra e probidade”, (probidade é sinônimo de retidão, dignidade, decoro, decência, honestidade, honradez, integridade, respeitabilidade, seriedade), ou seja, homens livres e de bons costumes independentemente da denominação ou convicção que os possam distinguir;

- O maçom deve atender à moral, isto é, aos costumes, baseados em princípios éticos (a ética é o suporte da moral e esta a origem da norma);

- O maçom pode, e deve, pugnar pela evolução e melhoria da sociedade através de um comportamento exemplar;

- O maçom deve ser um homem de fé, em que os contornos e a estrutura da crença não é imposta aos demais, para que todos se encontrem no espaço comum da partilha de valores fundamentais, podemos dizer mesmo religiosos (no seu sentido etimológico “o que liga”), com a qual todos os homens concordem. Daí a expressão Grande Arquiteto do Universo, com a qual é possível designar a divindade em que cada um creia, independentemente de ser cristão, judeu, muçulmano, hindu, budista, etc.). Esta convicção religiosa teísta é conjugada com o princípio da tolerância (guardar “as opiniões pessoais para si próprios”);

- Outra caraterística essencial da Maçonaria é de uma instituição fraternal (“a Maçonaria será um centro de união e um meio de concretizar uma verdadeira amizade entre pessoas que de outra forma permaneceriam separadas”).

Assim, a essência da Maçonaria é ser uma organização baseada na Moral respeitando a legalidade vigentes, restrita a crentes, tolerante quanto às crenças individuais de cada um, agrupando homens livres e de bons costumes, de índole fraternal.


Conclusão:

A minha admiração por João Bosco advém de, como sacerdote católico, ter sido um renovador do sistema de educação da juventude e do ensino profissional (um dos criadores do sistema preventivo em educação) e pela dedicação de toda a sua vida aos jovens sobretudo aos órfãos que, então nas grandes cidades, eram explorados por empregadores sem escrúpulos.

As suas relações com políticos, e com pessoas influentes, bem como a amizade direta com Papas, ter-lhe-iam dado uma elevada importância política que este canalizou para a concretização dos seus ideais, sempre em benefício dos jovens desprotegidos e sem quaisquer perspetivas de futuro. Com empenho, sacrifício pessoal e dedicação permanente, João Bosco levou a cabo uma obra notável que, em 170 anos de existência, proporcionou uma melhor qualidade de vida a milhões de jovens, continuando a contribuir para o bem da humanidade e para o progresso da nossa sociedade.

À data da sua morte a Congregação Salesiana contava com 768 membros; 26 casas fundadas nas Américas; e 38 na Europa. Atualmente a sua atividade inclui Oratórios, Centros juvenis, Escolas profissionais, Internatos, Paróquias, Missões, Obras de promoção social e Comunicação social.

O meu profundo respeito, consideração e simpatia por João Bosco é consequência da minha própria experiência. Num período conturbado da minha vida pessoal e familiar (regresso do ultramar) tive a sorte de ter contactado, de muito perto, com a congregação salesiana do Estoril, e beneficiado do apoio direto da mesma pelo facto de aí ter um tio sacerdote. Esta proximidade contribuiu seguramente para moldar o meu carácter determinando a minha forma de estar na vida.

Esse apoio foi determinante para a minha formação profissional ao proporcionar-me algumas condições que me ajudaram a atingir os meus objetivos com o esforço e empenho pessoal.

O meu próprio pai também frequentou, nos anos 20, as oficinas de S. José em Campo de Ourique, destinadas à formação profissional de rapazes filhos de famílias com carências económicas (no pós 1ª Guerra Mundial).

Fraternidade é, pois, a palavra que exprime um dos principais valores que encontro em João Bosco e que me seduz no ideal maçónico.


Autor: João Bosco

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