Depois de num dos momentos marcantes na minha vida, ter sido aceite e
iniciado na Augusta, Benemérita e Respeitável Loja Estrela D’Alva, fui
confrontado com a necessidade de escolher um nome simbólico. Na altura quando
me pediram esta tarefa, tal era a agitação mental em que me encontrava, achei
seria fácil esta escolha. Mas não, não foi tão simples como pensava. Tinha de
ser alguém especial, alguém com quem me identificasse tanto nos valores
transmitidos como com a obra realizada.
Um dia conversando com um colega meu do trabalho, que se sentia desiludido
com a sua vida profissional, entre outras coisas, dei por mim a dizer-lhe uma
frase que muitas vezes digo já há algum tempo - “a vida não tem sentido …tu és
quem deve dar sentido a vida”. Foi um momento especial pois sem querer, pensei
para o meu interior que sempre tive alguém com quem me identificava, alguém que
se prezava pelos valores transmitidos.
Vou-vos contar a história de um homem, criador de uma ideia ou forma de ajuda baseada na busca pelo sentido da vida, alguém que se dedicou a ajudar gente que já não tinha nada a perder a não ser a vida por não encontrarem uma luz no seu caminho.
O brilho nos olhos do jovem Frankl rapidamente impressionou estudiosos e o
colocou em correspondência frequente com ninguém menos que Sigmund Freud. Por
influência deste, Frankl publicou o seu primeiro artigo aos 19 anos, um grande
feito para quem ainda cursava a faculdade de medicina.
Dois anos passaram e ele já denominava as ideias de logoterapia – usando o
significado grego para “logos” = sentido. Era o início da terapia do sentido da
vida.
Aos 23 anos, Frankl organizou e ofereceu um programa especial, e gratuito,
para aconselhamento de alunos do ensino médio. Com o apoio de psicólogos, ele
formou uma equipa que agia justamente no momento de grande fragilidade de
qualquer aluno: a época da entrega dos boletins. O programa foi um êxito. Em
1931 nenhum estudante vienense cometeu suicídio. O sucesso despertou a atenção
de autoridades europeias, que passaram a convidar Frankl para dar palestras em
diversos países.
No último ano da faculdade de medicina, Frankl já delineava o que seria o
alicerce da sua contribuição para a psicoterapia. Segundo o jovem Viktor, os
três valores, ou formas, que viabilizam o ser humano encontrar o sentido da
vida eram:
· Criar um trabalho ou fazer uma
ação;
· Experimentar algo ou encontrar
alguém (não só trabalho, mas também no amor);
· A capacidade de encontrar
sentido até mesmo no sofrimento.
Entre 1933 e 1937, Viktor, completou as suas especialidades em Neurologia e
Psiquiatria, tornando-se responsável por uma ala tenebrosa do hospital
psiquiátrico, chamado “pavilhão do suicídio”. Lá, atendeu mais de 3 mil
mulheres com tendências suicidas.
Aos 36 anos, casou-se com o amor da sua vida Tilly Grosser, enfermeira do hospital onde ele trabalhava. Ah, esqueci-me de mencionar que naquele momento, o mundo, e particularmente a Europa, sofria com a Segunda Guerra Mundial. Outra informação significativa na vida do jovem casal: eram judeus.
Do destino de seu povo naquele momento, Viktor decidiu não fugir. Junto com
a sua esposa e toda a família, foi mandado para um gueto e posteriormente para
três campos de concentração. Não preciso mencionar o que se passou ou se viveu
nesses locais. Como se não bastasse um aborto provocado pelos nazis antes da
separação do casal, Frankl perdeu quase todos os seus: a esposa, os pais, o
irmão – todos mortos. Ele só não perdeu sua irmã e a sua teoria… a logoterapia.
Foi a esperança de reencontrar a sua esposa e publicar as suas ideias sobre
a terapia do sentido da vida que mantiveram Viktor vivo ao longo dos três anos
de sofrimento humano indescritível. Tamanha era a alimentadora vontade de
passar os seus conhecimentos a diante, que perigosamente escondia rabiscos em
papel das suas ideias dentro das cuecas.
Um psiquiatra no campo de concentração. Um psiquiatra que pode conhecer o
essencial, o homem despido, o homem com medo, o homem mórbido e, o que
impressiona e comprovou sua teoria, o homem com sentido na vida.
Como explicar que, apesar de tudo, muitos judeus sobreviveram? Como? Frankl
usou muito a frase de Nietzsche, Nietzsche, “Quem tem por que viver pode
suportar quase qualquer como”.
Em 1944, aos 39 anos, Frankl foi libertado. Porém, o desejo de reencontrar
sua esposa foi logo descoberto como não mais possível.
Mas aquele desejo, de passar as suas ideias para as próximas gerações,
contribuir para a ciência, revelar o tesouro que representava toda sua vida de
dedicação, que se fundia nele mesmo, foi a razão que o manteve vivo…
Frankl realizou no ano seguinte, o sonho que o manteve vivo, com a
publicação do livro: “Dizendo sim para a vida apesar de tudo: experiências de
um psicólogo no campo de concentração.”
Viktor encontrou novos sentidos na sua vida, novos motivos para seguir
vivo. Continuou com o brilhantismo a sua carreira. Assumiu a direção da
Policlínica Neurológica de Viena, cargo que desempenhou por 25 anos. Deu
palestras em 209 universidades, em todos os cinco continentes. Recebeu 29
títulos de Doutor Honoris Causa.
Por admirar este homem pelo seu altruísmo, o seu comportamento íntegro pelo
qual ajudava companheiros que se encontravam em perigo à custa da sua
segurança. A sua dedicação a trabalhar uma ideia que iria salvar tantas almas
em desespero.
Por me identificar muito com seu sentido da vida para a Humanidade, que
fosse melhor, mais fraterna, mais saudável, pelos seu Ideais que lutou até ao
fim dos seus dias, mesmo quando privado da sua liberdade.
Por estas razões e por outras que não cabem neste pequeno, mas emotivo
texto, e pensando nos valores e princípios da Maçonaria – Liberdade, Igualdade
e Fraternidade, decidi adotar como nome simbólico Viktor Frankl, esperando
quanto em mim caiba honrar este nome.
Por fim, cito a frase que resume a sua linha de pensamento: “Nós podemos descobrir o significado da vida de três diferentes maneiras: fazendo alguma coisa, experimentando um valor ou o amor, e sofrendo”.
Autor: Viktor Frank
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